Caro leitor, correntes migratórias ocorrem desde os primórdios da humanidade e geralmente são decorrentes de situações adversas.
Especificamente os imigrantes e emigrantes gays têm como fato principal a homossexualidade e suas barreiras sociais, a discriminação e homofobia.
Durante o regime da ditadura brasileira, os homens e mulheres saíram do país devido às ideologias políticas, mas nesse contingente havia muitos gays que emigraram para os Estados Unidos, atraídos principalmente pelo movimento hippie dos anos 1960 e 1970.
Viver na América sempre foi o sonho de consumo, não apenas dos gays, mas dos brasileiros de uma forma geral.
Nos dias atuais os principais destinos ainda são os Estados Unidos e Canadá e em casos pontuais novos destinos passaram a ser referência para o público LGBT. Exemplos de Espanha, Portugal e a nossa vizinha Argentina.
Com o advento da internet o mundo ficou acessível e os gays saíram na frente e buscaram conhecer pessoas desses locais e daí para o processo de emigração foi um pulo.
Por experiência própria vários amigos e conhecidos saíram do país atraídos pela liberdade da sexualidade e muitos emigraram para a Espanha, país sabidamente aberto às questões da diversidade sexual. Barcelona e Madri são destinos certos para aqueles que buscam parceiros mais velhos.
Faça uma pesquisa em sites de relacionamento e em redes sociais e você encontrará uma infinidade de perfis oriundos da Espanha e por haver muita demanda, até mais que no Brasil, os admiradores de homens maduros e idosos optam por sair do país na busca do parceiro ideal e quem sabe um relacionamento estável e em última instância uma amizade que proporcione residência fixa.
Quando eu estive em Barcelona encontrei muitos gays brasileiros, alguns por pura diversão e aventura e outros já de relacionamento com espanhóis. O mesmo ocorreu em Madri e Lisboa.
Numa pesquisa recente mais de 70% dos homens que se prostituem na Espanha são brasileiros. Isso também ocorre em Londres, Bruxelas, Lisboa, Roma e outras capitais do velho continente. Deve-se considerar que a maioria não é travesti.
Travestis brasileiros predominam em Roma e Lisboa e também em menor fluxo em Madri.
Vale lembrar que uma das maiores colônias de brasileiros vivendo na Europa está na Espanha.
Só para ter uma ideia: Em 1998 residiam na Espanha, 2710 brasileiros e em 2010 eram 117 mil.
Outro fato interessante, obtido de um estudo de Juan Carlos Checa, professor titular de sociologia da Universidade de Almería diz respeito às uniões homossexuais que são mais frequentes entre homens brasileiros e espanhóis do que entre mulheres de ambos os países. Da mesma forma, pode-se comprovar que as uniões homossexuais entre as duas nacionalidades, de 2005 a 2010, são mais heterogâmicas que as estabelecidas pelos heterossexuais. Isso quer dizer o seguinte: Os gays brasileiros emigram para a Espanha, buscam parceiros e mantem relação estável por longos anos. Isto só comprova o que eu sempre acreditei. São os amantes envolvidos com os espanhóis que são apaixonados por latinos por achar exótico e sensual.
Isso não deprecia essas relações, muito pelo contrário, as fortalece. Porque se o brasileiro é jovem tem oportunidade de estudos e trabalho, se é maduro possivelmente já está estabelecido financeiramente e tem condições de morar noutro país e viver a sua sexualidade sem neuroses, além da bagagem cultural adquirida.
Texto extraído do estudo espanhol:
Assim, as uniões homossexuais binacionais também aumentarão com o passar do tempo, pois, se no princípio estas se mantiveram entre pessoas da mesma nacionalidade, posteriormente foram-se consolidando com membros de outros lugares. Não devemos esquecer que o comportamento matrimonial endogâmico, em alguns grupos e independentemente da sua orientação sexual, pode ser atribuído à influência das famílias, quando constroem um discurso baseado na distância cultural entre os grupos, destacando, especialmente, as diferenças religiosas e sociais, entre outros…
Outro fato interessante ocorreu nessas emigrações após 2010: O aumento do número de brasileiros gays vivendo no exterior que pediram asilo político alegando homofobia.
Enfim, são diversos vetores dessa corrente migratória e nos últimos trinta anos eu perdi contato com pelo menos uns dez amigos que saíram do país, todos movidos pela paixão por homens mais velhos. Alguns foram para Miami, Fort Lauderdale considerado o paraíso dos gays idosos, a maioria foi para Espanha e outro foi para a Argentina.
Há também destinos como Lisboa e o Porto por conta da facilidade com a língua. No bom sentido é claro!
Mas nem tudo são flores. Lá fora também tem homofobia e mesmo em países como Inglaterra e Irlanda recomenda-se a discrição, principalmente neste último de maioria católica. O recado vale para os Estados Unidos e Canadá, pois dependendo da cidade o conservadorismo predomina.
Quando estive no Canadá em 2002, fiquei surpreso com a tolerância com a diversidade e não é para menos, hoje mais de 80% da população é a favor de relacionamentos homoafetivos. De Vancouver a Quebec e Toronto que é mais aberta à diversidade e possui um dos primeiros bairros gays do mundo. Eu já escrevi sobre isto noutro post, leia aqui.
Caro leitor, a emigração para outro país é uma decisão pessoal difícil, porque envolve cortar o vínculo com tudo. Eu nunca tive desejo de sair do Brasil e depois que conheci outros países ainda acredito que aqui é o meu lugar. Claro, eu resido na maior metrópole da América latina e isso é um facilitador porque tudo acontece aqui.
Se você reside em cidade pequena do interior eu aconselho se mudar para uma grande cidade do país e aí se não tiver jeito, o melhor destino é atravessar as fronteiras e buscar a sua felicidade em qualquer outro lugar do mundo e até na Austrália destino recente de gays brasileiros.