Sugar daddy

Caro leitor, no universo gay o verdadeiro Sugar Daddy é um homem experiente, confiante, bem-sucedido, que trabalha muito, e por isso, é muito próspero. Um Daddy gosta de compartilhar suas riquezas, conhecimentos e momentos com o seu Sugar Baby.

Isso quer dizer que todo homem maduro e rico é um Sugar Daddy? Não!

O fator generosidade é, normalmente, o que pode diferenciar um Sugar Daddy de um Salt Daddy (termo que caracteriza um Daddy mão-de-vaca).

Portanto, quando um jovem, determinado e com objetivos esclarecidos, um Sugar Baby, procura por um homem maduro, generoso, com um networking muito bem estabelecido, um Sugar Daddy, ele espera aprender coisas novas, ganhar mimos e viver momentos incríveis em viagens pelo mundo!

Este personagem está em alta no Brasil por conta de diversos fatores, o principal é a necessidade do jovem gay ascender socialmente o mais rápido possível, além da falta de expectativas quanto à geração de renda e o tempo para obter sucesso financeiro.

O sugar daddy nada mais é do que um cliente que contrata um michê pagando altas quantias de dinheiro por entretenimento e sexo.

No cotidiano dos gays esta geração de sugar daddies tem idade superior a 40 anos, frequenta academias, possui carro do ano e circula nos grandes centros urbanos à procura de jovens gays pobres, bonitos, de corpo atlético, boa verbalização da língua portuguesa e com algum potencial de subir na escala social.

Invariavelmente, esses jovens não frequentam faculdade e poucos possuem trabalho fixo e a maioria é desempregado que passa o dia em aplicativos de relacionamento gay à procura de homens bem sucedidos.

Os sugar babies criam contas nas redes sociais e aplicativos +18 como o Onlyfans para chamar a atenção do sugar daddy com a finalidade exclusiva de fisga-lo para entrar no mundo do consumo, dos mimos e da vida fácil.

Com a pandemia e a reclusão social, os aplicativos de pegação passaram a ser o principal canal de comunicação entre sugar daddies e babies.

Recentemente um garoto de programa de São Paulo processou um sugar daddy de Botucatu no interior de São Paulo porque ele não cumpriu com as promessas feitas com o pagamento dos serviços prestados. Pior notícia é que a justiça na capital é favorável ao profissional do sexo.

O sugar daddy sempre existiu mas não era tão cobiçado como nos dias atuais porque não se expunha e buscava os seus boys na noite e nos guetos das cidades sempre no anonimato.

O comportamento do daddy é similar em qualquer lugar do mundo. Pagam os favores sexuais com mimos, presentes, viagens e dinheiro. Esses favores causam tesão e geram falsa sensação de segurança quando na verdade são inseguros e precisam de afirmação perante conhecidos e amigos.

É mais um estereótipo no mundo dos gays 😂

As homossexualidades populares

O diagrama deste artigo demonstra a chamada hierarquia popular da rotulação, estigmatização e marginalização da sexualidade masculina no mercado do sexo.

Eu trouxe este artigo para o blog com a finalidade de mostrar que mesmo depois de tantas mudanças sociais e comportamentais das últimas décadas, as pessoas ainda rotulam e marginalizam os gays. O submundo do mercado do sexo sempre existiu e sempre vai existir.

A homossexualidade popular é uma hierarquia de gênero articulada ao papel esperado no ato sexual; ou é ativo ou passivo. É óbvio que existe o papel duplo do “gilete” ou “versátil”, mas isso não é demonstrado nessas hierarquias.

Os clientes procuram as travestis para dar vasão à sua sexualidade e uma parcela de clientes gosta de fazer o papel do passivo – muitos travestis são bem dotados e isso desperta o desejo. Por outro lado os michês se submetem à passividade por questões financeiras e em menor escala por paixões repentinas.

No mercado do sexo não existem diferenças de classe social nos papeis desempenhados e a homossexualidade popular cria uma “hierarquia” de estigma e reprovação social de que são alvo as bichas e travestis, marcando-os com rótulos: Bicha burra, atrasada e sem consciência. Um rótulo comum no próprio meio é a “bicha pobre”.

As travestis são profissionais do sexo com características do sexo feminino e assim como os michês são figuras do cotidiano popular e no caso desse último imagina-se como homens viris. Michês e travestis representam respectivamente o homem e a mulher.

O cotidiano das travestis e michês é povoado de fantasias, medos, perigos e violência, mas também de paixões repentinas e efeminamento do prostituto. São comuns as histórias de garotos de programa que se apaixonam pelos clientes e acabam se submetendo às sevicias dos seus amantes e passam a fazer o papel do passivo. Nessa situação a virilidade fica no passado e para se chegar ao papel da travesti é um passo. Isso não é uma verdade absoluta, mas é um caminho trilhado com frequência por esses personagens.

Assim, a transação entre garotos de programa e clientes tende a conectar, de um lado, rapazes jovens, de desempenho de gênero masculino, ativos, mais pobre e tendencialmente mais escuros, e, de outro, homens mais velhos, passivos, mais ricos e tendencialmente mais brancos.

Do lado dos clientes, rola o desejo e fascínio por parceiros de classe baixa, jovens e rudes, que representam a masculinidade inculta e autêntica, o “homem de verdade”. Do lado dos michês existe o desejo e fascínio para desfrutar de uma série de coisas materiais: dinheiro, carro, apartamento, etc., assim como das possibilidades de novos relacionamentos sociais e do acesso à informação e cultura – a falsa “ascensão social”.

Nos encontros das travestis, michês e clientes a perversão esta sempre presente.  Os personagens reais deste cenário muitas vezes têm desvios de comportamento e taras incontroláveis. Os pervertidos, sadomasoquistas, sádicos, anormais de todas as formas físicas e sexuais circulam livremente nos territórios e bairros do mercado do sexo e tudo acontece com uma normalidade singular. As travestis e michês vivem na corda bamba, turbinados por bebidas e drogas, além de sinais evidentes de delinquência. Michês e travestis sempre portam armas brancas e uma minoria usa armas de fogo.

No mundo do sexo o dinheiro é o motor central da prostituição. Também, desejo e dinheiro anulam qualquer diferença de classe social entre os homens envolvidos.

Os garotos de programa vivem aventuras circunstanciais e tem horror às possíveis formas de apego sentimental. O bordão corrente entre os garotos é “Michê que gosta de cliente é bicha, michê não pode gostar”.

O mundo das homossexualidades populares exerce fascínio e proporciona um cenário de aventura erótica, chega a ser um fascínio ingênuo pela marginalidade. Dinheiro e desejo caminham juntos com a paixão e a violência, de corpos de clientes e prostitutos, homossexuais marginalizados ou adolescentes desvirginados e pobres.

Os acadêmicos dão a isso o nome de “região moral”, que designa um território residual para o qual convergem interesses, gostos e temperamentos ligados à boêmia, ao desejo não convencional, o lugar onde as paixões indisciplinadas, reprimidas, sublimadas encontram vazão.

Eu também considero que as carências e a falta de afeto levam à prostituição e escancaram as desigualdades sociais. O sexo é o subproduto desse processo e a sexualidade é apenas o pano de fundo de todos os dramas humanos.

Créditos: Referências aos textos de Julio de Assis Simões sobre homossexualidades populares – Julio Simões é doutor em ciências sociais e professor de antropologia da USP – Universidade de São Paulo.

Leia também: Gays maduros e os garotos de programa

O coroa de programa

É isso mesmo! Homens gays maduros e até idosos estão cobrando para fazer sexo.

Ouvi essa história de um amigo e nem acreditei, mas imaginar que “michê” é coisa de garoto ou adolescente é uma conclusão um tanto antiquada.
Este novo cenário na cena gay de São Paulo e de tantas outras cidades do Brasil é conseqüência da situação sócio econômica da população em geral e que também afetam os gays, principalmente, os desempregados, usuários de drogas e aposentados.

O mundo moderno é capitalismo puro. Tempo é dinheiro e isso também existe no mundo gay.

Coroas de programa são aqueles que um dia foram garotos de programa e não conseguiram se estabelecer na vida e continuam até hoje na profissão – Essa afirmação nem sempre é verdadeira, continue lendo este post…

Meu amigo me contou que abordou um coroa na avenida Paulista e o cara nem era tão gostosão assim, mas se surpreendeu ao ouvir o pedido de R$ 100,00 para fazer o programa. Pagou e teve o coroa por 3 horas e com direito de escolha para todas as coisas que ele desejava fazer.

Curioso ele perguntou ao coroa porque ele cobrava para fazer sexo e ouviu uma resposta interessante:
Cobro porque preciso me manter e apenas descobri que poderia ganhar dinheiro com sexo depois que fiquei desempregado e com muitas contas para pagar. Hoje aos 58 anos não tenho mais oportunidades de trabalho e cobrar por sexo foi a única alternativa que encontrei para sobreviver.

Descobri também que muitos jovens e executivos gostam de gays mais velhos e aproveitei a oportunidade para ganhar dinheiro.

Moral da história: este coroa fatura uma média mensal de R$ 2.500,00, apenas com sexo e ele nem freqüenta saunas ou boates porque nesses locais todos os gays acreditam que é o sexo pelo sexo e que tem que ser gratuito, apenas pelo tesão.
Ele fatura essa grana apenas circulando por avenidas e praças da cidade e dando atenção a todas as cantadas que recebe. Tem até agenda fixa com alguns clientes durante o mês.

Um deles ficou tão apaixonado que ajuda no pagamento do aluguel do apartamento no valor de R$700,00 – é o que o coroa chama de ajuda de custo.

Mais interessante ainda é que o homem nem tem acesso à Internet – faz um corpo a corpo diário se permitindo ser cantado e muito desembaraçado vai logo dizendo que cobra para fazer sexo. Também, deixa claro aos clientes que devem arcar com as despesas de preservativos, hotéis ou motéis e se for à noite muitas vezes ele cobra até o jantar.

Nem sei se esse assunto é polêmico ou não, mas eu achei interessante.

Por favor não me escreva para pedir o telefone do coroa, pois nem me dei ao trabalho de ser tão curioso com o meu amigo.

Quer escrever ou participar, então comente esta situação.