Unidade Móvel de Cidadania LGBT

Caro leitor, no mês do orgulho gay é sempre bom lembrar ações que contribuem para a qualidade de vida da população LGBT.

Em São Paulo existe um programa de atendimento com diversos serviços:

Desde 2015, as Unidades Móveis de Cidadania LGBT, da Coordenação de Políticas para LGBT, oferecem, de forma itinerante, informações sobre direitos LGBT, leis que protegem a população, onde acessar os serviços de saúde e assistência social, além de realizar mutirões de retificação de nome e gênero, fazer o direcionamento dessa população para os Centros de Cidadania LGBT da cidade de São Paulo e informar sobre as ações da Prefeitura como o Casamento Coletivo Igualitário. O serviço é realizado, hoje, por quatro veículos.

Agora há pouco eu identifiquei um dos veículos na Praça Dom José Gaspar no centro perto da Biblioteca Mário de Andrade. Apesar de não constar do calendário oficial o veículo sempre está por lá. Eu parei e perguntei sobre o programa e fiquei feliz de saber que na cidade existe este serviço, bem como, atendimento à população de rua e imigrantes.

O calendário pode ser conferido no link a seguir: Clique Aqui

Após a conversa com o pessoal que atende no serviço eu constatei que infelizmente os gays ou lésbicas maduros ou idosos quase nunca procuram o serviço, por medo de exposição e até mesmo por receio de serem vistos junto ao veículo de atendimento.

Seria bom demais se todas as prefeituras de todas as cidades brasileiras ou pelo menos as cidades com mais de 50 mil habitantes pudessem oferecer os serviços que a Prefeitura de São Paulo oferece, com certeza os problemas seriam minimizados em diversas frentes.

E vida que segue…

O desejo homossexual e a vergonha do próprio corpo 

Nas últimas duas décadas virou obsessão os cuidados físicos e a beleza virou religião. A liberdade sobre o próprio corpo veio com o dever de ser belo e impulsionada pela indústria da beleza advinda dos Estados Unidos.

No mundo gay o prazer supremo acima de qualquer coisa acompanhou as mudanças culturais e os padrões também mudaram a forma como os homossexuais buscam aprimoramentos corporais para assemelhar-se ao modelo americano/global, ou seja, cuidar dos músculos, definir barriga, tornear as pernas e braços para no final ficar parecido com aqueles viados machões de leather da velha São Francisco dos anos 70 e 80.👇🏼👇🏼

Desde a minha adolescência observo corpos masculinos e a transformação é algo surreal. Não tinha essa coisa de peeling porque o corpo não era mercadoria de vitrine. Os jovens gays dos anos 1970, cuidavam mais da postura, para não serem identificados como pederastas. Não havia espaço para cuidados corporais, bastava um bom banho, trato nos cabelos, roupa adequada e estava pronto para conquistar parceiros.

Naqueles tempos era quase imperceptível a observação do próprio corpo, salvo, casos de exibicionismo crônico, pois isso sempre existiu.

Com ou sem exibicionismo todos os homens gays passaram a gostar e cuidar do corpo e respectivas partes íntimas, a começar por olhares e contemplação de seus cacetes grossos, compridos, finos ou curtos.

Independente das formas ou tamanhos não basta olhar é preciso apalpar, tocar, sentir o membro entre os dedos e mesmo se o sujeito é tipicamente passivo, usa as ferramentas táteis para desvendar os segredos corporais e posteriormente busca no corpo de parceiros aquilo que lhe proporciona o prazer.

As variantes corporais vão além da genitália e descobrir o próprio bumbum é algo fascinante através do toque e do visual e para isso o espelho está sempre de plantão e na falta dele elogios do parceiro elevam o ego de seus donos. Aliás, é na frente do espelho que descobrimos o nosso corpo, cada detalhe, cada mancha e na velhice buscamos os primeiros sinais de envelhecimento, rugas, sardas e flacidez.

Há aqueles que são feios de cara e lindos de bunda ou lindos de cara e feios pra cacete. Um amigo diz que antes de qualquer coisa ele olha o cacete e se for feio nem adianta ser o mister mundo. Até os belos tem vergonha do corpo se não estiverem dentro do padrão enlatado.

Observar o próprio rosto é algo comum desde a adolescência, porque em geral os gays prestam mais atenção ao rosto do outro. Ninguém em sã consciência se acha feio, porque os defeitos são compensados na observação de outro corpo igual ao seu, ou melhor, do mesmo gênero.

Tem gente que vê beleza nos pés, mãos, ombros, costas, quadril e até orelhas, tudo é corpo, tudo é desejado e o desejo começa em casa, trancado no banheiro ou no quarto observado e tocando suas partes íntimas.

O desejo por outro corpo masculino é algo natural. A maioria prefere jovens, uma parcela cobiça os maduros e a minoria deseja um idoso, mas no geral todos querem tocar o corpo alheio como se fosse seu e aí não importa padrões e rótulos.

Aliás, os idosos querem parecer jovens para manter acessa a chama da conquista porque ninguém quer ser deixado de lado ou passar despercebidos.

Há de se considerar o padrão das cores e acessórios corporais: brancos, pardos e negros nessa ordem, pouco pelo, peludos ou imberbes também nessa ordem.

Foi-se o tempo das nádegas rechonchudas como atributo corporal masculino, as mulheres adoram e vice-versa, mas no meio gay isso nunca foi moda. Prevalece o padrão saradão, mas sempre há espaço para os gordinhos e gordões.

No universo corporal conta até a cor dos olhos e cabelos, dos raros azuis ao castanho popular e cabelos escuros, grisalhos e loiros nesta ordem e até os carecas.

A descoberta da sexualidade é motor propulsor para descobrir o corpo, porque desde cedo fomos educados e treinados para não tirar a roupa na frente de ninguém e assim incorporamos a vergonha ao nosso cotidiano e deixamos de lado a curiosidade sobre partes e membros. Aliás, nosso corpo é composto por pele, músculos, órgãos, ossos e nervos.

A vergonha do próprio corpo é um dos motivos mais banais para as relações sexuais entre parceiros não ir adiante e perde-se muitas oportunidades de usufruir outros corpos por medo de mostrar-se imperfeito. O medo da crítica ou comentário está lá no fundo do subconsciente.

Caro leitor, você já se sentiu envergonhado em tirar a roupa na frente do parceiro? Nos acostumamos a nos sentir mal em relação ao nosso corpo e na hora H não queremos todas as luzes acessas e corremos para fechar todas as janelas. Temos vergonha de sermos observados nus, por inteiro e praticamos o sexo na penumbra ou ainda enchemos a cara de álcool e seja o que Deus quiser.

De todas as possibilidades de sentir-se envergonhado a pior é a comparação dos membros entre parceiros. Você imagina um bofe escândalo, gostoso com um cacete avantajado e quando o homem tira a roupa você percebe que o seu pau dá de dez a zero no concorrente. Você passou a vida achando o seu pênis o maior dos problemas, mas nem sempre é o tamanho do pênis que vai definir quem vai dar para quem ou mais ou menos prazer.

Numa das minhas aventuras sexuais conheci um homem maduro e corremos para o motel. Eu queria dar ou comer aquela gostosura e não é que ele me fez bolinar seus mamilos até gozar? Aliás, aqueles mamilos eram lindos, avantajados e pontudos, uma delícia! Ele nunca gostou dos mamilos, achava-os feios, mas depois que elogiei a autoestima foi nas alturas. Portanto, antes de ter vergonha do seu corpo ou de qualquer parte dele, busque uma segunda opinião, porque em matéria de corpo tem gosto para tudo e para todos.

Há quem goste de corpos tatuados ou orelhas, nariz e boca com piercing, um tribal primitivo e não estranhe ao se deparar com argolas nos mamilos, nos bagos e até na glande do pinto de parceiros como prova de masculinidade.

Outro dia morri de rir ao ouvir de um colega que ficou chocado ao ver uma argola de metal na cabeça do cacete do parceiro. Na hora ele desistiu de ser passivo e como o seu bilau não dava conta do recado, a aventura terminou sem final feliz e cada um seguiu o seu caminho.😂

Enfim, os tempos mudaram e hoje existem academias inclusivas que ajudam pessoas a não sentirem vergonha do próprio corpo. Vale tudo para modelar músculos e destruir camadas superficiais da pele em cirurgias estéticas pelo simples motivo de se sentir belo e desejado.

A saúde mental dos gays na quarentena

Caro leitor, o tempo passa e o isolamento se prolonga por quase dois meses e a situação mental das pessoas, inclusive dos gays tende a se deteriorar com situações de tédio, estresse e ansiedade.

Se para os gays jovens é difícil ficar confinado mesmo com todas as tecnologias disponíveis, imagine para os gays da terceira idade, principalmente aqueles que vivem sozinhos ou possuem alguma comorbidade.

As situações variam de acordo com a realidade de cada um, mas é real a vulnerabilidade psicológica pois a maioria está em casa e a TV não dá trégua nas notícias e predominam as ruins: morte, sofrimento, isolamento e angústia são alguns ingredientes para o cérebro acumular descargas elétricas que alteram a realidade e transformam o cotidiano num cenário caótico e pessimista.

Eu mesmo já não aguento mais essa espera por dias melhores e observe que estou numa chácara no interior e com duas pessoas ao meu lado. É preciso muito equilíbrio emocional e ser mais racional.

Aqui no meu isolamento eu procuro ocupar as horas do dia com tarefas, além de leitura, caminhadas dentro do perímetro da chácara e uma hora por dia observo os pássaros e a natureza, mas poucos tem este privilégio.

A saúde mental dos gays vai deteriorar, principalmente dos mais vulneráveis e dos grupo de risco, além de tantos outros que perderam ou perderão seus empregos.

A longa espera ainda longe de terminar é indicativo de mais problemas, porque após essa pandemia será necessário correr por ajuda de profissionais para auxiliar na retomada do equilíbrio. A vida jamais será igual e tudo será diferente.

As neuroses estão à mostra com doenças psicológicas que se acumulam lentamente ao longo do tempo e quanto mais demorar o controle da pandemia maiores serão os problemas e as pessoas envolvidas. O verbo corrente é sobreviver.

Um dos pensamentos é sobre a morte. Será que serei contaminado? Se ficar doente eu vou sofrer e morrer? Meu Deus eu acho que chegou a minha hora.

Essas indagações a si mesmo são os primeiros sinais do desequilíbrio mental. A preocupação com a morte é normal como também a falta de emprego e perpectivas futuras incertas, mas ideias fixas sobre situações dessa natureza apenas somatizam doenças psicológicas.

Ontem recebi um e-mail de alguém dizendo ter sonhos recorrentes sobre ter contraído a doença e acredita que isso é mau presságio.

Outro amigo está neurótico com a limpeza do apartamento e já passou álcool em gel pelo menos umas vinte vezes ao dia nas maçanetas das portas. O banheiro é desinfetado três vezes ao dia. Ele toma banho com sabão em pedra com alto teor de soda. Todas essas atitudes são anormais. 😱

Mas o pior é não sair do telefone para saber se algum parente ou pessoa conhecida se infectou, no smartphone troca mensagens sempre esperando notícia ruim e na frente da TV pessoas são números nas estatísticas. Já perdeu quatro quilos, não se alimenta direito e vai na contramão de todos que comem demais por ansiedade. Ele tem 54 anos e disse ter medo da morte por coronavirus mais do que teve medo no início da disseminação do HIV.

Eu sei que a Covid-19 é coisa séria e com transmissão rápida, não tem vacina ou remédio comprovado, mas os absurdos e comportamentos anormais estão infectando o cérebro de muita gente. As estatísticas mostram índices baixos de mortalidade, mas a dúvida gera insegurança para todos.

Os gays jovens e idosos de classes sociais mais altas já buscam serviços de psicólogos e apoio de profissionais da saúde mental através da telemedicina em plataformas digitais. Os menos favorecidos ficarão à margem para tratamentos psicológicos durante e depois de tudo isto passar, parcialmente ou em definitivo.

Portanto, é necessário fugir das notícias ruins, tomar todas as precauções de higiene, uso de máscara e distância social, além de somar diariamente pensamentos positivos, relaxar, meditar e tornar o seu cotidiano o mais normal possível porque doenças mentais podem se tornar crônicas e de difícil tratamento.